CASOS DE
EVASÃO ESCOLAR
Caso 1- AUSÊNCIA
DO SENTIMENTO DE PERTENÇA
Até os anos de 2007 no bairro Zumbi,
o mesmo em que se localiza a Escola Julieta Deps Tallon, havia uma escola
experimental denominada “Escola Cidadã” cujo propósito era o de abrigar
adolescentes com defasagem idade – ano escolar, e até mesmo alguns/mas
evadidos/as, que pretendessem voltar a estudar. A referida escola na verdade
funcionava como laboratório para formandos/as do dos cursos de licenciatura do
“Centro Universitário São Camilo”, mantida pela Ordem Católica dos Camilianos. Era
uma forma de contribuir socialmente com a comunidade e ao mesmo tempo oferecer
aos educandos da Universidade espaço para estágio.
A maioria dos alunos/as da Escola
Cidadã, cerca de 80 % (oitenta por cento), eram negros/as e aos que
demonstravam maior capacidade intelectual eram oferecidas oportunidades para o
ensino médio de forma gratuita (bolsa integral). Ou seja, estava ali
constituídas ações afirmativas na escola São Camilo, de ensino fundamental e
médio, que funciona no mesmo espaço do Centro Universitário.
Dentre as/os alunas/os que
sobressaíram na Escola Cidadã, lembro-me de uma – Edilaine- com a qual convivo,
e que embora na escola da rede privada para onde foi contemplada viesse
demonstrando toda a sua capacidade, quando encontrava-se no 2º ano do ensino
médio evadiu-se .Os pais insistiram pela sua volta, mas não a convenceram.
Decorrido algum tempo, já em ano
seguinte , quando soube do ocorrido procurei-a e indaguei as razões pela quais
ela se evadira, e o que era pior não estava em nenhuma outra escola.
Agora um pouco mais madura, findo a
ensino médio em horário noturno, ao perguntar-lhe sobre as causas de sua evasão
da escola da rede privada, ela afirmou-me que não se sentia parte daquela
escola, pois percebia a discriminação que sofria em razão da cor de sua pele
(raça/etnia) e classe. Ou seja, por não haver o “sentimento
de pertença” adolescentes/jovens se evadem da escola.
Lição aprendida/Proposta de ação
Para
nós que nos propomos a implementar um Projeto de Erradicação da Evasão Escolar
na Escola Julieta Deps Tallon, seria interessante retomarmos o debate com o
Centro Universitário São Camilo com a proposta de que seus/suas educandos/as
contribuam com crianças/adolescentes com maiores dificuldades de aprendizagem.
Entendemos que esta seria uma forma preventiva de evasão.
Caso 2 - GRAVIDEZ
PRECOCE
Quando
exercia a função de Conselheiro tutelar, no ano de 2005, o representante do
Ministério Público de Cachoeiro de Itapemirim editou uma Portaria que exigia
das escolas mapear os infrequentes e evadidos. Após a própria escola buscar
intervir pelos seus retornos, se não conseguissem lograr êxito,
obrigatoriamente deviam encaminhar ao Conselho Tutelar a relação com os/as
alunos/as e responsáveis nestas situações.
A
nós conselheiros/as cabia convocar pais e adolescentes para um diálogo o que
fazíamos individual e em grupo.
Pude
constatar que as evasões femininas se davam em maior quantidade em virtude de
suas precoces gravidez.
Pude
verificar também que nos Projetos Político-Pedagógicos das escolas não previa
estes casos, havendo necessidade de debater com mais afinco a temática, assim
como para manutenção das alunas-mães, talvez fosse indispensável que tivessem
um berçário na escola.
Infelizmente
a Portaria do MP não teve continuidade em razão da transferência de seu
representante para outro município.
Lição aprendida/proposta de ação
Como
se vê, as ações contra a evasão escolar podem/devem, às vezes necessitar dos representantes
do Ministério Público, até porque é seu dever de ofício assegurar direitos à
cidadania.
O Direito
não é apenas de acesso à educação, mas de aprender. E aprender Cidadania, que
exige consciência crítica.
Cabe
as escolas elaborar PPP que abranjam as situações vividas pela comunidade.
Participar da elaboração dos PPPs é responsabilidade da comunidade até porque
como nos apresenta o Art. 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente:
“É dever da família, da sociedade, da comunidade e do estado assegurar os direitos das crianças e
adolescentes.”
Autor: Manoel Alves Oliveira
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