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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

GÊNERO E FUTEBOL: "O QUE A ESCOLA TEM COM ISSO?"

Por Alessandra Pereira

As diferenças entre homens e mulheres como já foi esclarecido em unidades anteriores do Curso de Especialização em Políticas Públicas em Gênero e Raça, vão além das diferenças biológicas que classificam machos e fêmeas de acordo com suas características físicas.  A classificação do comportamento esperado de homens e mulheres pela sociedade é chamada de gênero. O que se espera de cada sexo é diretamente influenciada pela cultura da sociedade a qual se vive.
Percebemos que o modelo de mulher hegemônico no nosso meio social é o modelo que a considera submissa, a senhora do lar. Mas um novo modelo de uma mulher mais dinâmica e inserida no mundo do trabalho fora de casa conquista cada vez mais espaço no mundo da produção, antes considerado eminentemente masculino.
No esporte, assim como a autonomia social, a inserção da mulher, tem-se pautado por um processo bastante conturbado, marcado por barreiras e dificuldades algumas já vencidas e outras ainda por serem superadas. Esta realidade também está relacionada às diferenças anatômicas e biológicas entre mulheres e homens, e culturalmente associadas às idéias de fragilidade física feminina (frágil, delicada) com funções de reprodução e afazeres domésticos, cabia a ela o papel de ser mãe, esposa e dona de casa e grandeza física masculina (forte, viril), responsável por adquirir e manter o sustento da família, cabendo a ele e somente a ele a prática esportiva. (LE BRETON, 2006).

Historicamente, a escrita referente ao futebol destaca em sua maioria apenas a prática masculina, deixando de lado a evolução na mulher nesse esporte tipicamente masculino. As referências que se encontram são feitas por chamada curta ou nota de rodapé. Entretanto, apesar da historiografia brasileira do futebol não dar ênfase a sua prática pelas mulheres, como registra Franzini (2002), o jogo feminino tem no país uma trajetória significativa com referências desde o início do nosso futebol.

A primeira participação feminina emcompetições esportivas foi nas olimpíadas de 1932, sediada em Los Angeles, Maria Lenk, nadadora paulista de 17 anos, representou um marco na história feminina nos esportes.

A entrada das mulheres no mundo do futebol foi cheia de obstáculos, chegando a ser baixado um decreto proibindo a participação de mulheres em algumas atividades, pois colocaria a saúde das mesmas em risco, podendo prejudicar a capacidade de reprodução principalmente.

Goellner (2005) descreve a participação das mulheres no futebol feminino no início do século XX, menor que a dos homens devido à interdição e a impossibilidade dos clubes investirem em políticas de inclusão das mulheres no esporte em determinadas modalidades. A partir da década de 70 ocorreram novas bases para a organização do esporte no país, e por conseqüência em 1979 foi revogada a deliberação do Conselho Nacional de Desportos que vedava a prática do futebol e do futebol de salão pelas mulheres.

A mídia teve grande influencia na popularização e aceitação da pratica do futebol pelas mulheres, embora muitas vezes a notícias eram negativas outras vezes a cobertura de eventos esportivos foi decisiva para o crescimento de praticantes e de atração de investimentos para o futebol feminino. 

Mourão e Morel (2005) relatam que devido a pouca intimidade com o esporte que as jogadoras possuíam, os espectadores consideravam o futebol feminino um divertimento visto como uma caricatura, com tons de comédia, e despertam curiosidade. Os eventos de futebol feminino ajudaram no processo de inserção da mulher na esfera pública, ajudando na legitimação da presença da mulher no esporte. Segundo os mesmos autores durante a final da década de 70 e início da década de 80 o futebol foi noticiada em jornais e revistas contendo manchetes e narrativas que evidenciavam desigualdades de gênero no futebol.

Darido (2002) menciona o importante papel da mídia, citando a Rede Bandeirantes como determinante no fortalecimento e divulgação do futebol feminino no Brasil, sendo a primeira emissora brasileira a transmitir jogos de futebol feminino.
Hoje a participação das mulheres no futebol evoluiu assim como em outros espaços como: política, mercado de trabalho entre outros, porém as diferenças salariais, de prestígio e de popularidade ainda são visíveis.
Ana Maria Capitanio (2005) em seu trabalho sobre as desigualdades no meio esportivo, a partir da perspectiva de gênero, menciona que, embora a evolução das mulheres no esporte seja realidade, elas ainda vivem sob a sombra de muitos preconceitos sexistas. O reconhecimento e respeito de suas capacidades e a igualdades na distribuição de poder, que lhe são de direitos conquistados, ainda não fazem parte da realidade cotidiana. Mesmo que ainda sobrevivam do esporte e participem de competições nacionais e internacionais representando o país, o esporte de alto nível não é considerado como trabalho formal. Por sua vez, além de toda rotina desgastante de treinos e exigências comuns ao esporte, as mulheres ainda têm que enfrentar algumas “lutas invisíveis”, por vezes, nunca imaginadas pelos espectadores desse grande fenômeno cultural que é o esporte. Nota-se a desvalorização do esporte praticado por mulheres em relação aos homens, tanto em termos financeiros, condições de treinamento, transporte, alojamento, publicidade e mídia.
É notável a necessidade de ação na área esportiva que diminua o preconceito e os estereótipos atribuídos as mulheres jogadoras de futebol, seguindo a lógica da sociedade. Muitas mudanças aconteceram no que diz respeito às expectativas em relação às mulheres, mas ainda há muito que se discutir e problematizar.  A escola parece ser um local privilegiado para iniciar uma mudança de comportamento e visão quanto às diferenças entre gêneros em um indivíduo. As aulas de educação física é um local rico em possibilidades de convivência com essas diferenças.
FREITAS (2005) percebeu em sua pesquisa que o principal conteúdo nas aulas Educação Física nas escolas estudadas é o futebol (na versão futsal) agregando os meninos e excluindo as meninas. E ainda, que quando as aulas não se apresentam com essas características, traz à tona uma disputa entre meninos e meninas que acaba promovendo outros conflitos que ocasionam, da mesma forma, a exclusão da maioria das meninas das aulas. Estes dados foram por nós comprovados quando das observações em todos os ambientes investigados. Em que aos meninos foi indicada à prática do futebol e às meninas que quisessem a prática aleatória do handebol ou ainda, a quem não se interessasse por nenhuma das duas atividades sugeridas, restaram à opção de simplesmente sentarem na arquibancada ou passearem pelo pátio da escola e se excluírem da atividade.



REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DARIDO,S.C. Futebol feminino no Brasil: do seu início a prática pedagógica. Revista da Educação Física\Unesp – Motriz, V. 8, n. 2, ago 2002. Disponível em: http://www.rc.unesp.br/
FRANZINI,F. Futebo l “é coisa pra macho”¿ Pequeno esboço para uma história das mulheres no país do futebol. Revista Brasileira de História, São Paulo, V.25, n. 50. Disponível em: http://www.scielo.br
FREITAS,L.L. Gênero e Futebol feminino
GOELLNER, S.V.Mulher e Esporte no Brasil: entre insentivos e interdições elas fazem história. Revista Pensar a Prática, Goiás, V.8, n.11, 2005. http://www.revista.ufg.br
GOELLNER, S.V.Mulheres e Futebol noBrasil: entre sombras e visibilidades. Revista Brasileira de Educação Física Esporte, São Paulo, V.19, n. 2, 2005. http://www.usp.br
HLIAL, R.; GORDON,JR. C. Sociologia, história e romance na construção da identidade nacional através do futebol. Revista estudos históricos – esporte e lazer, Rio de Janeiro, V. 13. N. 23, http://www.cpdoc.fgv.br
MOURÃO, L.;MOREL.M. As narrativas sobre futebol feminino. O discurso da mídia impressa em campo. Revista Brasileira Ciência do Esporte, Campinas, V. 26, n. 2, jan. 2005. http://www.rbrceoneine.org.br
CAPITANIO, A. M. Autopercepções d desigualdades de atletas mulheres. Polêm!ca Revista Eletrônica, Vol. 9, No 2 (2010).

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